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Amazônia, a Arte
 19.Jun.2010 a 05.Set.2010

No Ano Internacional da Biodiversidade, a Fundação Vale, por meio do Museu Vale, apresenta a exposição “Amazônia, a arte”. Tema recorrente na atualidade, nesta mostra coletiva a região amazônica é celebrada com o interesse maior em revelar artistas com atuações e trajetórias distintas, consolidadas ou em franco desenvolvimento, apresentando ao país obras extremamente genuínas e interessantes.

Idealizada por Paulo Herkenhoff, com curadoria de Orlando Maneschy, a mostra reúne 31 artistas que mantêm um vínculo primordial com a região amazônica: muitos deles nasceram, e em sua maioria vivem e trabalham, nas cidades da região Norte do Brasil, onde realizam pesquisas e desenvolvem seus trabalhos, conectando-se ao mundo por meio de sua arte.

A compreensão da diversidade cultural é fundamental para que se estabeleça uma relação respeitosa e produtiva com o meio ambiente. A Fundação Vale visa o desenvolvimento econômico, ambiental e social dos territórios onde atua, de forma a promover a melhoria da qualidade de vida das comunidades, trabalhando de modo integrado e respeitando as singularidades de cada uma delas. Com esta exposição, o Museu Vale colabora para a divulgação, circulação e visibilidade de uma arte originalmente brasileira, plural e contemporânea.

Fundação Vale

Artistas

Hélio Melo (AC), Grupo Urucum (AP), Roberto Evangelista (AM), Naia Arruda (AM), Thiago Martins de Melo (MA).

Pará: Acácio Sobral, Alexandre Sequeira, Armando Queiroz, Armando Sobral, Alberto Bitar, Berna Reale, Cláudia Leão & Leonardo Pinto, Dirceu Maués, Éder Oliveira, Edilena Florenzano, Elza Lima, Emmanuel Nassar, Lise Lobato, Luiz Braga, Maria Christina, Melissa Barbery, Marcone Moreira, Miguel Chikaoka, Otávio Cardoso, Patrick Pardini, Paula Sampaio, Walda Marques.

Rondônia: Coletivo Madeirista (Joesér Alvarez, Ariana Boaventura e Rinaldo Santos)
Roraima: Claudia Andujar, Orlando Nakeuxima Manihipi-Theri (da terra Indígena Yanomami em Roraima), Katie van Scherpenberg e Cildo Meireles.

Curador

Selvagem e contemporânea

A Amazônia ainda é um mistério. O inferno verde vem suscitando as mais variadas fantasias desde o início de seu desbravamento, a partir do encontro de Francisco Orellana com as guerreiras indígenas icamiabas, em um fluxo contínuo engendrado por seus diversos ciclos migratórios.
Inúmeros e inconstantes processos de integração aconteceram sobre a região de dimensões espetaculares e isolada dentro de si mesma e do país, a despeito da busca de conexão rodoviária que se estabeleceu a partir da segunda metade do século passado. Ainda assim, o continente amazônico é um território repleto de experiências ímpares, embora pouco conhecidas do resto do Brasil.
Suas cidades, em especial as capitais Manaus e Belém, encravadas na floresta, mantiveram estreita conexão com a Europa, o que garantiu a circulação de bens culturais que, somados à vivência do habitante do lugar, constituíram procedimentos de mestiçagem cultural, que se desenharam entre o contato com o continente europeu e a falta de integração nacional.

Diante desse contexto de isolamentos e fluxos, as singularidades de viver a região manifestam-se de forma particular na experiência estética dos artistas que habitam a Amazônia e operam em sistemas paralelos de arte, que ora os colocam também em proximidade com o resto do mundo, ora os mantêm desvinculados do trânsito operado no centro-sul do país, gerando, por vezes, uma instabilidade na produção, tanto artística, quanto de projetos institucionais para a arte.

Esta situação de fragilidade e inconstância é reflexo das políticas que se inscreveram na região ao longo de sua história, mas que, por outro lado, propiciaram uma produção artística menos comprometida com apelos do mercado e mais concentrada nas relações com seu lugar de pertencimento, sua luminosidade, suas peculiaridades socioculturais, fazendo com que artistas, tanto de forma coletiva, quanto individual, realizassem proposições densas, de grande potência, como as que se vê na mostra que se revela aqui, em Amazônia, a arte.

Neste conjunto, veremos artistas que vêm articulando proposições distintas. Convidamos o observador a adentrar com passos lentos, olhar com calma, como faz o nativo ao penetrar a floresta densa, e entender a luminosidade e riqueza cromática; perceber como as especificidades locais se apresentam em relação aos temas globais; compreender como as políticas são acionadas em suas micro ou macro questões. 

Em Amazônia, a arte, vê-se um fragmento da produção contemporânea de rara densidade, visceral, autêntica, que se inscreve em um território peculiar e ainda pouco conhecido. Longe de querer lançar uma visão totalizante, a exposição aponta para a necessidade de se conhecer mais a região e o próprio país, e entender que aquilo que nos é estranho pode ser a chave para a compreensão de quem somos.

Orlando Maneschy
Curador

Projeto

Circunstâncias

1944
Aos treze anos tive o primeiro encontro com os “marcados para morrer”. Foi na Transilvânia, Hungria, no fim da Segunda Guerra. Meu pai, meus parentes paternos, meus amigos de escola, todos com a estrela de Davi, visível, amarela, costurada na roupa, na altura do peito para identificá-los como “marcados”, para agredi-los, incomodá-los e, posteriormente, deportá-los aos campos de extermínio. Sentia-se no ar que algo terrível estava para acontecer.

Em meio a esse clima de perplexidade, Gyuri me convidou para um passeio no parque. Foi uma confissão de amor. Só assim posso nomear o seu desejo de andarmos juntos. Era algo que fazíamos guiados pela intuição. Tratava-se de um passeio somente para me dizer:“Freqüentamos a mesma escola. Reparei em você. Você é especial. É bonita”.

Eu também o procurava, dia após dia, caminhando na rua, sempre na mesma hora. Sabia que o veria en passant. Sinto a emoção me apertar a garganta. Naquele dia de junho de 1944 decidimos nos encontrar e confessar nossos sentimentos.

O rapaz judeu estava marcado com a estrela amarela, o mogendovid. Ele tinha quinze anos e eu treze. Andamos emocionados, sem falar, olhando-nos furtivamente. Sabia que algo importante estava acontecendo. Era o nascimento do amor. Sentia um formigamento na pele. No fim do passeio recebi um beijo tímido e silencioso, que apenas tocou minha boca. Lembro-me de ter ficado com os lábios ardendo por horas seguidas. Um amor, em circunstâncias tão especiais, a gente nunca esquece. 

Ao sair com Gyuri, publicamente, sabia que estava desafiando o meu tempo. Nunca mais o revi. Durante anos, guardei um retrato de Gyuri no medalhão que usava pendurado no pescoço.

1980
Quase quarenta anos depois, já vivendo no Brasil como fotógrafa engajada na questão indígena, acompanhei alguns médicos em expedições de socorro na área da saúde.
A partir de 1973, o território yanomami na Amazônia brasileira foi invadido com a abertura de uma estrada durante os anos do “milagre brasileiro”. Com a mineração, a procura de ouro, diamantes, cassiterita, garimpos clandestinos e não tão clandestinos, floresceram. Muitos índios foram vitimados, marcados por esses tempos negros.
Nosso modesto grupo de salvação − no começo, eu e mais dois médicos − se embrenhou na selva amazônica. O intuito era começar um trabalho organizado de saúde. Uma de minhas atividades era registrar, em fichas de saúde, a existência das comunidades yanomami. Para isso, pendurávamos placas com números no pescoço de cada índio: “vacinado”. Foi uma tentativa de salvação. Criamos uma nova identidade para eles, sem dúvida, um sistema alheio a sua cultura.
São as circunstâncias desse trabalho que pretendo mostrar por meio destas imagens feitas na época. Não se trata de justificar as marcas colocadas em seus peitos. Mas de explicitar que elas referem-se a um terreno sensível, ambíguo, que pode suscitar constrangimento e dor. A mesma dor que senti por amor ao pisar na grama do parque, um amor impossível com Gyuri. 

Ele morreu em Auschwitz naquele mesmo ano de 1944.

2008
É esse sentimento ambíguo que me leva, sessenta anos mais tarde, a transformar o simples registro dos Yanomami na condição de “gente” − marcados para viver – em obra que questiona o método de rotular seres para fins diversos.

Vejo hoje esse trabalho, esforço objetivo de ordenar e identificar uma população sob risco de extinção, como algo na fronteira de uma obra conceitual.

Claudia Andujar

Publicação

AMAZÔNIA, A ARTE
Museu Vale exibe a visualidade da região amazônica
em mostra que reunirá obras de 32 artistas contemporâneos

A pluraridade da Amazônia no contexto da arte brasileira poderá ser conferida a partir de 19 de junho no Museu Vale – ES, quando será inaugurada a exposição AMAZÔNIA, A ARTE, idealizada por Paulo Herkenhoff, com curadoria de Orlando Maneschy. Pinturas, fotografias, objetos, vídeos e instalações irão compor a mostra que reunirá a produção de 32 artistas dos Estados do Amazonas, Acre, Amapá, Roraima, Pará, Rondônia e Maranhão, além de Claudia Andujar, Cildo Meireles e Katie van Scherpenberg, convidados especialmente para participar da exposição. A produção é de Maria Clara Rodrigues, da Imago Escritório de Arte.

“A Amazônia tem uma produção particular no contexto da arte brasileira e da cultura visual em geral” – afirma Henkenhoff. – “Sua singularidade se marca no modo como muitos artistas amazônicos trabalham sobre o gosto vernacular, materiais locais e sobre valores plásticos que são definidos como próprios. A questão da autoexpressão afeta grupos indígenas, sendo que alguns buscam construir um discurso através de videoarte, por exemplo. Existe uma longa tradição de modernidade e interesse em avanços tecnológicos. A produção de arte na região amazônica permanece como uma incógnita, apesar do razoável reconhecimento recebido por uma meia dúzia de artistas paraenses nas últimas duas décadas” – conclui o autor do projeto.

AMAZÔNIA, A ARTE não pretende ser uma visão totalizadora da produção artística da região – “o que seria sempre uma promessa de um resultado falacioso” – diz Herkenhoff, mas implica no levantamento das principais questões conceituais e políticas evidenciadas na arte produzida pelos artistas de cada um dos Estados que farão parte da mostra.

Tendo em vista a diversidade cultural da região, a Amazônia Brasileira, por sua dimensão gigantesca, salvo o Pará, é um arquipélago de situações culturais isoladas entre si e de todo o país. Esse isolamento implica pautas diversificadas na arte, em desenvolvimento institucional díspar, e diferentes graus de intensidade do ambiente da arte. Esse estado da arte e de seu sistema se constitui em desafios importantes, os quais, adequadamente enfrentados, podem trazer resultados significativos. 

Para o curador Orlando Maneschy “o Brasil continua não conhecendo o Brasil, e muito menos a Amazônia, que ainda é vista como um celeiro de exotismos e ponto focal dos mais variados interesses. Esta imagem corriqueira de Amazônia, que circula na mídia, não permite ver a complexa riqueza de relações em que a estética se estabelece na vida desdobrando-se na produção artística. Esta exposição é uma oportunidade que o país tem de ver um pouco além, e conhecer artistas instigantes”, ele diz.

Visualizando as obras que farão parte da mostra, Maneschy destaca o trânsito dos artistas por diversas linguagens e como as questões presentes irão articular sobre a luminosidade e a cor, o espaço e a política. Como esses aspectos reverberam na obra de artistas que ora se detém sobre micropolíticas relacionais, e que irão dialogar com a própria história da região, e, por conseguinte, com a do país. “A potência desta exposição se apresenta na força com que essas obras atravessam questões estéticas e conceituais evidenciando como esses artistas pensam seu papel no mundo”, afirma o curador. 

AMAZÔNIA, A ARTE atravessa várias gerações de artistas: de Hélio Melo, Emmanuel Nassar e Luiz Braga até jovens talentos, como a artista Melissa Barbery, que vem se destacando na produção paraense e fará um vídeo em Tucumã, na Estação Conhecimento, onde crianças e jovens frequentam aulas esportivas no programa Brasil Vale Ouro. Barbery apresentará ainda a instalação Low-tech Garden, em que se utiliza de objetos luminosos precários construindo um lisérgico jardim, falando da passagem do tempo.

A exposição requer um olhar pausado, atento, que se adapta a um percurso e ambiente novos, como quando se adentra na própria selva; esse princípio da luz se apresenta já no início, convidando o visitante a se permitir entrar com vagar, observar os detalhes, e isso nos é dado desde o primeiro momento, desde o primeiro passo. Um exemplo disso é o fotógrafo Patrick Pardini, que vem se dedicando nos últimos anos a uma densa reflexão sobre a flora amazônica, e apresentará o projeto “Arborescência”. 

Patrick Pardini também realizará um trabalho especial na FLONA – FLORESTA NACIONAL DE CARAJÁS, que se tornou um exemplo de sustentabilidade no planeta. O artista incorporará esta nova série de imagens ao projeto ampliando o desenho que se configura numa crescente coleção. Sobre este trabalho, haverá um texto no catálogo especialmente escrito por Nelson Sanjad (doutor em História das Ciências na Amazônia pela Fundação Oswaldo Cruz; membro da diretoria da Sociedade Brasileira de História da Ciência; e historiador e pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi, onde é atualmente coordenador de comunicação e extensão).

Hélio Melo (AC), Grupo Urucum (AP), Roberto Evangelista (AM), Naia Arruda (AM), Thiago Martins de Melo (MA). Do Pará: Acácio Sobral, Alexandre Sequeira, Armando Queiroz, Armando Sobral, Alberto Bitar, Berna Reale, Cláudia Leão & Leonardo Pinto, Dirceu Maués, Éder Oliveira, Edilena Florenzano, Elza Lima, Emmanuel Nassar, Lise Lobato, Luiz Braga, Maria Christina, Melissa Barbery, Marcone Moreira, Miguel Chikaoka, Otávio Cardoso, Patrick Pardini, Paula Sampaio, Walda Marques. Rondônia: Coletivo Madeirista (Joesér Alvarez, Ariana Boaventura e Rinaldo Santos), por Roraima Claudia Andujar, Orlando Nakeuxima Manihipi-Theri (da terra Indígena Yanomami em Roraima), Katie van Scherpenberg e Cildo Meireles.

O Museu Vale é uma instituição da Fundação Vale, a qual visa o desenvolvimento dos territórios onde a empresa atua, de forma a promover a melhoria da qualidade de vida das comunidades. Inaugurado em 15 de outubro de 1998, o Museu Vale já recebeu mais de um milhão de visitantes e sediou 32 importantes exposições, entre as quais, “Babel”, de Cildo Meireles (2006), com itinerância na Estação Pinacoteca do Estado de São Paulo, premiada com o Troféu da Associação Paulista de Críticos de Arte, como a melhor exposição do ano, e “Salas e Abismos”, de Waltercio Caldas (2009), que exibiu instalações do artista jamais vistas no Brasil. Através do Programa Educativo, o Museu Vale realiza workshops criados por arte-educadores convidados e ministrados por alunos universitários. Neste mesmo programa o Museu capacita jovens aprendizes em ofícios relativos à montagem e desmontagem das exposições. 

Serviço:
Amazônia, a arte
Produção Maria Clara Rodrigues – Imago Escritório de Arte Ltda.

Museu Vale
Antiga Estação Pedro Nolasco s/n – Argolas – Vila Velha – ES – Brasil
Telefone: 55 27 3333.2484
Período: de 19 de junho a 5 de setembro de 2010
Horário: de terça a domingo, das 10h às 18h; sextas: das 12h às 20h 
www.museuvale.com 

Assessoria de Imprensa
Meio e Imagem
Tels: (21) 2533.4748 – 2533.6497
Contatos: Ana Ligia Petrone e Flavia Motta