Você sabia que os espaços que compõe o entorno do Museu Vale ( jardim e demais áreas externas ) também são importantes para as exibições de arte contemporânea?
Convidados a expor na instituição, os artistas possuem a total liberdade de trabalharem da maneira que acharem melhor para criar as obras, a partir do que veem nas visitas que realizam ao espaço onde acontecerá a exposição; alguns deles optam por trabalhar com um tipo de linguagem artística chamada “site specific”.
Você conhece esse termo, site specific?
O “site specific” diz respeito a obras de arte que são criadas de acordo com o ambiente e espaço onde acontecerá a exposição como potência transformadora, isto é, o espaço assume a diretriz do projeto. Não quer dizer, entretanto que o limite, mas sim, que provoca o artista ao ponto dele querer fazer um obra que tenha relação direta com tudo o que está ali, o que se vê, o que sente, enfim, a obra passa a ser característica do espaço expositivo.
No Museu Vale o jardim, a vista para a Baía de Vitória e o porto, tão apreciados por todos os seus visitantes, já foi palco e inspiração para a criação de exposições de diversos artistas.
Você se lembra de alguma obra ou exposição no Museu Vale que teve relação direta com o seu entorno?
Vamos relembrar?
Um artista que se utilizou da vista que o Museu possui foi Eduardo Frota, expondo enormes carretéis na mostra “Territórios do Olhar”, em 2005. Ele uniu as características de sua própria arte com o que observou a partir do entorno da instituição. Sua exposição aconteceu no galpão de exposições, porém a concepção para a criação de suas obras partiu da observação de todo o espaço da instituição museal, principalmente da paisagem ao redor. Basta observar a arte produzida por ele e o Porto de Vitória, do outro lado da baía, que percebemos como há um diálogo direto entre ambos.
Em 2007, Yoko Ono também se apropriou do entorno, dessa vez, na exposição “Arte para Crianças”, cuja obra criada pela artista foi instalada no meio das árvores que se localizam entre o galpão e o edifício sede. A obra da artista chamava-se “Árvores dos Desejos”. Nela eram pendurados os anseios dos visitantes escritos em papéis que balançavam ao sabor do vento. Todos que desejassem participar, deixando ali um pouco dos seus sonhos pessoais, eram muito bem acolhidos pelas árvores que sempre tinham espaço para mais um sonho ou desejo. Essa obra propiciou ideias para muitas ações educativas que o próprio Museu Vale realizou nos anos seguintes no mesmo espaço.
Outro artista que se encantou com o jardim e as pessoas que o frequentavam foi Nelson Leirner. Em sua exposição “Vestidas de Branco”, de 2008, ele ficou impressionado com a quantidade de noivos e noivas que iam ao jardim do Museu Vale fazer fotos para os seus álbuns de casamento. Segundo o artista, depois que visitou o Museu e viu todos esses casais de noivos, a imagem não saiu mais de sua cabeça. Apesar da exposição do artista ter sido montada no espaço interno do galpão, como foi a de Eduardo Frota, as ideias para a sua concepção vieram do espaço externo.
“Jardins Móveis” dos artistas plásticos Rosana Ricalde e Felipe Barbosa, de 2017, foi a primeira exposição que aconteceu totalmente no entorno do Museu Vale. Nela, os artistas colocaram 20 esqueletos metálicos recobertos pelos mais variados infláveis (bóias), numa tentativa de reconstrução de algo que não mais existe. Um contraponto entre natural e o antinatural, uma crítica e uma proposta de reflexão sobre a artificialidade, o efêmero e a transformação do essencial em descartável, uma constante na sociedade contemporânea.
Além dessas, a mais recente mostra do Museu Vale, pré-pandemia, chamada “Tríade: Linha, Plano e Imagem”, cujo um dos artistas, Fredone Fone, mostrou um pouco mais de seu trabalho, porém dessa vez em grande escala produzindo uma pintura mural em tons de preto, branco, cinza e vermelho, ocupando a parede externa do galpão de exposições em toda a sua extensão. Em “Tríade” esse trabalho torna-se visível desde o outro lado da margem, na cidade de Vitória.
No jardim do Museu Vale você pode parar e contemplar a bela vista, o pôr do sol, sentar debaixo de suas árvores, fazer um piquenique a beira da Baía de Vitória, almoçar ou fazer um lanche a bordo de um antigo vagão transformado em um restaurante, o Café do Museu. Estar no Museu Vale é um convite a todos para experienciar profundamente a sensação de viver um tempo, uma história, além é claro, cultura e arte.
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